Depressão – idosos – HIV: qual a associação?

Passados quase 40 anos da descoberta do vírus HIV, ainda hoje é uma das doenças mais cruéis, sem cura e que causa graves transtornos físicos, emocionais e sociais na vida dos portadores.

O processo de envelhecimento celular decorrente do aumento da idade, gera consequentemente a diminuição de algumas habilidades que quando jovens realizamos sem dificuldades.

O idoso portador de vírus HIV lida, além das mudanças próprias do envelhecimento, com as alterações causadas pelo vírus, o tornando mais vulnerável, dando margem ao aparecimento de doenças oportunistas geradas pela baixa imunidade que o vírus causa.

Os transtornos neuropsiquiátricos têm alta prevalência, dentre elas a depressão tem destaque. Nos indivíduos portadores do vírus HIV, foi observado um percentual que variou entre 11% e 30%.  (Coutinho, O’Dwyerr e Frossard, 2018)

Uma das causas para a depressão em idosos com HIV ocorre com a descoberta do diagnóstico, visto que este vem acompanhado de um prognóstico que resulta em importantes mudanças na vida desse indivíduo. 

São relatados como principais sintomas o choque emocional, a preocupação com seu estado de saúde, ansiedade relacionada ao surgimento dos sintomas, angústia, medo da morte e de abandono por seus familiares, sem falar na raiva e culpa por ter adquirido o vírus. (Coutinho, O’Dwyerr e Frossard, 2018)

Estes sintomas podem aparecer em todas as fases da infecção, comprometendo sobremaneira a qualidade de vida dessas pessoas. No entanto, o diagnóstico de depressão maior permanece um desafio para os clínicos, devido a associação com fatores biológicos, psicológicos e sociais. (Nanni et al., 2015)

Diante dessas condições o idoso acaba se isolando, e aos poucos perdendo o interesse pelas atividades laborativas e/ou funcionais que exercia, gerando assim um impacto profundo na sua qualidade de vida e em muitos casos gerando quadros depressivos. (Casséte et al.,2016)

O diagnóstico de depressão em indivíduos infectados pode ser difícil pelo fato de alguns indicadores de depressão (anorexia, fadiga, fraqueza e perda de peso) serem parecidos com sintomas causados pelo vírus, principalmente na fase mais avançada. (Malbergier, Schoffel, 2001).

Muitos idosos chegam para a consulta com queixa de perda de interesse por atividades de laser, falta de apetite, insônia e esquecimentos. Esses sintomas precisam ser avaliados de forma mais abrangente para serem descartados outros diagnósticos.

Para avaliar a depressão em idosos, se faz necessário observar três sintomas clássicos da doença: Afeto, cognição e sintomas somáticos. Abaixo listamos as alterações mais comuns

Para afeto é importante observar as mudanças abruptas de humor como, o choro compulsivo, a irritabilidade, a tristeza, a apatia, a culpa e a desesperança.

Para as alterações cognitivas é fundamental observar as queixas relacionadas às dificuldades de memória, o raciocínio lentificado e a desorientação.

Para os sintomas somáticos é importante avaliar a presença de dores, de insônia, de falta de apetite, de falta de energia e as alterações na libido.

O portador de vírus tem a tendência a se isolar mais, passa a achar que não deve mais se envolver com ninguém, relata sintomas como irritabilidade e impaciência frente as questões relacionadas a doença.

Não somente o diagnóstico pode causar a depressão. O próprio sistema imunológico pode contribuir para a instalação da doença, já que o vírus atinge diretamente o sistema nervoso central, principalmente as áreas responsáveis pelas emoções e comportamento.

É imprescindível que os profissionais de saúde estejam atentos aos sintomas apresentados pelos idosos soro positivos. Isso contribuirá para o tratamento adequando nos problemas secundários à doença, por exemplo, a depressão.

Referências

NANNI, M. G. et al. Depression in HIV Infected Patients: a Review. Current Psychiatry Reports, v. 17, n. 1, p. 530, 21 jan. 2015.

COUTINHO, Maria Fernanda CruzO’DWYER, Gisele  and  FROSSARD, Vera.Tratamento antirretroviral: adesão e a influência da depressão em usuários com HIV/Aids atendidos na atenção primária. Saúde debate[online]. 2018, vol.42, n.116, pp.148-161. ISSN 0103-1104.  http://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201811612.

André Malbergier e Adriana schoffel, Tratamento de depressão em indivíduos infectados pelo HIV. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2001;23(3): 160-7

CASSETTE, Júnia Brunelli et al . HIV/aids em idosos: estigmas, trabalho e formação em saúde. Rev. bras. geriatr. gerontol.,  Rio de Janeiro ,  v. 19, n. 5, p. 733-744,  Oct.  2016 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232016000500733&lng=en&nrm=iso>. access on  02  Dec.  2020.  https://doi.org/10.1590/1809-98232016019.150123.

Texto de Lilliane Rapozo – Psicóloga e neuropsicóloga da equipe Geriatre

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *