Transtornos mentais em idosos

Envelhecer é um processo biológico natural e normal na vida de todos os seres vivos. É um processo silencioso, inevitável e progressivo. A ciência vem se esforçando para entender esse mecanismo. Todos envelhecemos de forma singular. (Cançado, Alanis e horta, Cap.18, pág.197)

Trabalhar com ações voltadas para a saúde mental de pessoas que envelhecem não é uma tarefa fácil. Muitos idosos nunca tiveram a oportunidade de estar com profissionais especializados na área do envelhecimento, e outros apresentam muita resistência em realizar esse acompanhamento por achar que “já estão velhos” e não precisam de tanto cuidado.

Porém, algumas mudanças psicológicas acontecem ao longo do envelhecimento, dentre elas temos em destaque quatro áreas centrais do funcionamento psicológico: Inteligência, memória, personalidade e bem-estar.

Com as mudanças biológicas no cérebro que ocorrem com o envelhecimento, há também alterações relacionadas aos fatores inerentes à inteligência como, por exemplo, a capacidade continuada de gerenciar atividades mais complexas do dia a dia. A alteração dos processos ligados à inteligência está diretamente ligada ao processo de envelhecimento cerebral.  

Alguns estudos mostram que há um aumento de volume dos ventrículos e que há uma atrofia no tecido do cérebro em idosos que apresentam queda na inteligência. Perdas maiores e mais significativas são encontradas em massa branca, hipocampo e lobo frontal do cérebro.  (Kramer, Fabiani e Colcombe, 2006) Kramer, A. F., Fabiani, M., & Colcombe, S. J. (2006). Contributions of Cognitive Neuroscience to the Understanding of Behavior and Aging. In J. E. Birren & K. W. 

Com o envelhecimento, as queixas de dificuldades de memórias são cada vez mais ouvidas por profissionais especializados no cuidado ao idoso. “Estou ficando velho”, “esqueci onde coloquei os meus óculos”, “não me lembro onde coloquei a chave do meu carro”. Esses exemplos de esquecimentos são comuns na rotina do idoso e estimulam maior atenção às possíveis alterações.

Uma das tarefas dos profissionais que atuam com a saúde mental, sobretudo de pessoas idosas, é saber diferenciar as queixas relacionadas com a memória no processo envelhecimento normal das queixas relacionadas às possíveis patologias.

Um dos principais indicadores diferenciais são as queixas que interferem nas atividades diárias e impactam na funcionalidade do idoso, ou seja, se trazem prejuízos significativos para sua condição de independência.

Outra possível mudança com o envelhecimento diz respeito às condições de personalidade (mudanças de humor, apatia, tristeza, agressividade, irritabilidade e etc.).  Pessoas que já apresentavam mudanças em sua condição de personalidade não costumam ter muitas mudanças, ou seja, permanecem com o mesmo padrão ou até evoluem negativamente.

Por outro lado, o envelhecimento pode vir acompanhado de alterações no âmbito físico, biológico, cognitivo, social e financeiro, o que pode influenciar nas alterações de personalidade pela falta de habilidade do indivíduo para lidar com tais mudanças.

Sentir que mantem o controle de sua vida pode auxiliar as pessoas a viverem melhor, frente às dificuldades que serão encontradas ao longo de seu envelhecimento. Idosos têm condições de se manterem ativos, mesmo com dificuldades, e precisam do apoio familiar e de acompanhamento com profissionais na área do envelhecimento para continuarem a se sentir vivos.

Fonte: Steven H. Zarit & Judy M. Zarit. Transtornos mentais em idosos: fundamentos da avaliação e tratamento, São Paulo, editora Roca, 2009.

Texto: Liliane Rapozo – Neuropsicóloga da Equipe Geriatre

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